Nesta semana ocorreu algo que me chamou a extrema atenção. Na verdade, o fato em si é muito corriqueiro em minha profissão, no entanto, minha atitude, embora num primeiro momento “natural”, me surpreendeu positivamente.
Estava participando de uma banca examinadora. Estavam presentes, como de praxe, três professores/pesquisadores, o aluno e alguns convidados. Pois bem, a apresentação em si foi regular. O nervosismo nessas horas, a imaturidade acadêmica e falta de condições estruturantes sempre dificultam, inclusive, nossa avaliação precisa. O tema a ser discutido era o conceito de amor na história da filosofia. O aluno em questão procurou esboçar o conceito a partir da perspectiva de vários autores, que iam desde Sócrates e Agostinho, passando por Freud e Eric Fromm. Ficou um trabalho didático, mas não original e mesmo instigador. Mas é assim mesmo, de fato, não esperava nada mais do que isso...
A questão principal veio a seguir. Um professor, no alto de sua sapiência, começa a “ponderar” sobre o trabalho, com um ar de pompa, necessidade de mostrar serviço, etc. Costumo ter uma ojeriza em relação a este tipo de comportamento, pois na maioria das vezes, não acrescenta em nada e dá a impressão que aqueles que eram para serem os intelectuais não conseguem transcender um “Felipe Neto” ou “PC Siqueira” da vida. Mas enfim, ele levou a discussão para a seguinte generalização. Segue, mais ou menos, suas palavras:
“A sociedade MODERNA está corrompida. Os valores estão invertidos e se perdeu aquela inocência e pureza das relações humanas. Hoje o amor é só sexo, e o sexo é só consumo, e consumo parece ser a vida... Em NOSSA época, nos relacionávamos melhor, estudávamos mais e RESPEITAVAMOS mais os nossos semelhantes. Estamos caminhando para um colapso social e as guerras no mundo (e agora no RJ) são uma prova de que falta o verdadeiro amor aos homens.” (Grifos meus)
Bem, achei tudo isso lindo e realmente acho que falta mais amor e respeito entre as pessoas. Mas me perguntei muitas coisas antes de interpela-lo: 1) Qual o intuito do sujeito ao dizer essas coisas?; 2) O que isso estará contribuindo academicamente com o trabalho do aluno; 3) Será que é esse perfil que o mercado educacional quer ou tolera?.
Por favor, não me entendam mal. Não acho que não devemos contribuir para formação humanas de nossos alunos, trazendo reflexões para vários campos, muito pelo contrário. Todos que têm aulas comigo, sabem da minha preocupação com a interdisciplinaridade, o aprendizado orgânico e a reflexão... Mas o que me instigou foram as razões que levaram aquela pessoa a ficar mais de trinta minutos discursando como se fosse um mentor espiritual, em plena apresentação de TCC.
Não vou ficar aqui tecendo considerações sobre o comportamento de outrem, aliás, nem era este o meu objetivo no começo do post. O que me chamou a atenção foi a minha reação. De inicio, tratorei os seus argumentos. Argumentei que sempre achei falacioso esse discurso de gerações melhores do que as outras. Uma geração é sempre uma ruptura, sendo que o “pior ou melhor,” pode ser somente uma questão de ponto de vista e contexto. É claro que não aprecio a moda “emo/colorida”, não escuto “sertanejo universitário”, realmente acho que os jovens de hoje tem uma dificuldade muito grande de perceber e ler o mundo a sua volta, mas não vejo nisso um apocalipse. Dizer que o mundo de outrora era melhor é negar que o mundo se transforma e se redimensiona. Honestamente, não acredito que o mundo esteja mais violento do que antes, o que ocorre é que hoje, com o avanço da comunicação, qualquer noticia nos chega de modo quase imediato, seja ocorrendo aqui na minha varanda ou nos confins do Veiga Jardim. É óbvio que nós, do Goiás, vimos de uma tradição rural, para não dizer comunal. Grande parte de nós passou a infância comendo pamonha, escutando moda de viola e sentindo o frescor (ou nauseante) cheiro de relva e pasto. Nossas relações, obviamente, eram mais entremeadas e o espírito de fraternidade aparentemente mais evidente. Mas não creio que as coisas tenham piorado assim. Não creio que havia educação ou polidez, e sim repressão e heteronomia. Não acho que existia uma família ideal e harmônica, daquelas de comercial de margarina ou de colônia espiritual. O que vejo, na experiência cotidiana, é que o que havia eram várias esposas que consideravam o divórcio um pecado e maridos que naturalizavam seus comportamentos promíscuos a partir do argumento da “necessidade natural de toda espécie de macho”, e filhos que temiam, mas não respeitavam verdadeiramente – o que é uma diferença enorme. Creio que vivenciamos uma época de rupturas e redimensionamento e precisaríamos de muito tempo ainda para julgar devidamente esta geração.
Mas a discussão para por aqui, até mesmo porque não conseguiria expressar tudo o que penso em poucas linhas e nem seria honesto intelectualmente com quem me lê nesta hora. O fato, mais uma vez, diz respeito à maneira com que me comportei logo após a tratatorada... Vi que o professor procurou a todo custo fundamentar sua explicação, que foi de Nietzsche à Jesus Cristo (!), mas vi também que o que ele queria não era me refutar e sim mostrar aos demais sua erudição e “moral”. Vi que não adiantava mais eu contra argumentar, pois o que estava em questão não eram mais ideias e sim vaidades. Resolvi parar por ali mesmo... E é aqui que me vi evoluindo um pouco. Em outros tempos, daria seguimento à discussão até provar que ele estava errado, ou fazer com que ele saísse do sério com minhas ironias pérfidas. Acabaria, por fim, criando uma animosidade profissional, um desconforto por parte do resto da comissão de avaliação e um prolongamento desnecessário ao tempo de apresentação de um aluno que a esta hora tudo o que queria era estar xingando muito no twitter...
Bem, meu mérito todo foi o de não avançar numa discussão que não deveria nem ter começado. Refletindo sobre várias outras ocasiões, vi que em muitas delas o meu desejo de intervenção foi, também, por mera tentativa de promoção pessoal. Nesse sentido, não tenho direito de julgar meu colega de trabalho que, por fim, estava no seu “ganha pão” profissional e egóico. A mim, resta calar ainda mais e só contra argumentar a mim mesmo. Com certeza, o mundo teria mais a ganhar com meu silencio que redundaria no aprofundamento de minhas próprias questões.
Att.
Diego A.
PS: abaixo, um vídeo que achei belíssimo e que de alguma forma expressa o que penso sobre o assunto das “juventudes”. É só passar o mouse e clicar (ele tá com uma fonte oculta)
http://www.youtube.com/watch?v=ZidBmzFFSyk&feature=player_embedded
Nenhum comentário:
Postar um comentário