Por diversas vezes sou questionado acerca de minha escolha acadêmica/profissional. Depois de um tempo - e com um relativo “sucesso” profissional – as perguntas sobre meu futuro econômico desapareceram. Tenho certeza que a maioria ainda pensa que num momento, tudo vai dar errado e eu vou ter que me isolar numa montanha, vivendo de fritada de insetos e bebendo caldo de cacto... Não escolhi ser professor de filosofia. Na verdade, nunca soube o que quis fazer profissionalmente (e na verdade nem sei ainda). Tenho resistências em acreditar que o trabalho “dignifica” o homem e sempre pensei que o curso de filosofia me traria outras vantagens, que não econômicas, mas que nem por isso, piores – ao contrário. Acabei me tornando professor por forças das circunstâncias e não me arrependo, por hora, disto. Em outra esfera, há aqueles que me questionam sobre meu consumo regular de drogas (!). Na verdade, hoje em dia, as perguntas que insistem em relacionar drogas e a atividade do filosofar também cessaram dado à minha postura declaradamente abstêmia. Como sabem que não bebo ou fumo e não uso outros tipos de drogas e ainda sou vegetariano, o velho estereótipo do filósofo “viajão” acaba não se aplicando a mim - e isto faz com que algumas pessoas já estejam “conformadas” com isto, embora sempre digam: “hum, sei...”.
No entanto, três rótulos ainda insistem em me fixar por parte daqueles que me conhecem há pouco tempo: a) “bissexual”; b) “comunista”; c) “ateu”. Vamos lá para as justificativas e fundamentações.
a) Não sou bissexual e nunca fui. Muitos pensam isto talvez por acharem que nos cursos de filosofia rola muita orgia (que curso de um federal não tem?) ou por que os primeiros filósofos gregos “eram” e, logo, todos os que estudam filosofia hão de ser. Bem, todos sabem que nada tenho contra a opção sexual de minorias. Já tive amigos gays e isso nunca foi um problema para mim. Sou a favor da união civil entre homoafetivos e se algum dia tiver uma pulsão por esta prática, levarei isso como um desejo e não como uma anomalia. Mas para a decepção de alguns, não sou bi, tri, tetra ou pan.
b) Também não sou comunista. Penso que as pessoas assim nos tacham pela herança que as faculdades de ciências humanas angariaram nos últimos 30 anos por força das influências teórica-sociais vivenciadas pelos universitários de outrora. Outra hipótese é o fato de falar apaixonadamente em minhas aulas, de Marx. De fato, o acho um avatar, mas isso não faz com que eu acate as suas determinações materialistas ou venha a aceitar integralmente suas ideias. Também aprecio Nietzsche e Sartre, além do Ozzy, e nem por isso me nomeio Roquentin, saindo com uma cópia do Zaratrusta e cantando N.I.B nos corredores de escolas. Confesso que na adolescência tive uma fase “camarada”, me filiando à “UJS” e todos sabem que o meu voto sempre foi de “esquerda”, além de ser muito crítico ainda em relação ao capitalismo, do ponto de vista filosófico. Mas não, não sou comunista!
c) Incrivelmente também não sou ateu. Não creio que as justificativas religiosas são boas para explicar o sentido da vida ou mesmo sua origem, da mesma forma como que acho que a ciência dá as suas tropeçadas e nem possui condições epistemológicas e metodológicas seguras para afirmar algo de forma irretorquível. Como todos sabem, me interesso muito por orientalismo e tenho uma visão de Deus muito próxima ao que certas correntes budistas apregoam, embora faça parte de uma doutrina declaradamente cristã. Estudo o espiritismo por que não consigo encontrar em outro tratado uma explicação e operacionalidade para certas coisas que vivencio. Se um dia encontrar isso em outra forma explicativa, mesmo sendo a ciência, não teria problemas em romper com minhas crenças. No final das contas, pensando cientificamente, acho Deus uma hipótese muito boa, e pensando religiosamente, acho que a ciência ainda está caminhando rumo a algo mais transcendente que por hora nem ela é capaz de reconhecer.
Como podem perceber, não sou um filósofo convencional. Não sou ateu, nem comunista, nem bissexual, nem passo fome ou uso drogas. Na verdade, grande parte dos meus colegas de faculdade não se encaixa neste perfil simplista de “filósofo louco”. Talvez um ou outro se enquadre neste quadro barroco de woodstock, mas a maioria ainda são pessoas “normais”. O que nos unia e identificava era o desejo de tentar compreender o mundo sobre diversas perspectivas e dar significado a coisas distantes do senso comum. Alguns conseguiram isso bem, outros ainda estão na estrada. E eu... continuo vagando...como um filósofo que ainda busca a sua topografia existencial e teima em não se alojar no comum.
Att.
Diego A
Nenhum comentário:
Postar um comentário