sábado, 4 de dezembro de 2010

Complexo de Aquiles Pt.1

Meu aniversário foi há quase dois meses. No entanto, só hoje me dei conta que estou chegando aos trinta anos.  Bem, é uma marca boa de sobrevida para quem acreditava que não ia passar dos vinte e três... Daí, hoje, refletindo sobre minha vida, vi que já passei por muita coisa e que é possível que eu continue vivo por muito tempo ainda, o que significa acumular xp suficiente para um up necessário para a próxima existência. Mas ainda assim, há algo que me atormenta de modo velado, sútil, mas que se prolifera como metástase: uma febre do “ser”.
Quando disse que não acreditava ter muito tempo de vida eu estava dizendo a verdade. Começou com uma cisma de criança e evoluiu para uma quase certeza cartesiana indubitável. Quando criança, “Diego” era o nome da moda. A homenagem imediata era ao homônimo jogador argentino que “brilhava muito” em 1982. Minha mãe queria o nome “Vinicius”, para combinar com o “Moraes” de meu pai. Destarte, “Vinicius” não era um nome bom, de qualquer forma, e meu pai queria prestar uma homenagem ao seu ídolo (!)... Pois bem, a minha inculcação dizia respeito a nunca ter conhecido alguém que tivesse o meu nome, contendo mais de vinte e três anos. Esse era o recorde. Daí achava que quando chegasse nessa idade seria arrebatado para Sodoma ou Tattooine. Depois de um tempo, meu problema passou a se direcionar para uma dificuldade específica que tenho até hoje: a de projetar o futuro. Parecia que todos os meus planos não atravessariam nunca a idade fatídica de vinte e três anos e qualquer esforço seria um desgaste que anteciparia ainda mais este momento. Já na adolescência, meu ritmo de vida não era dos mais edificantes. Para terem uma ideia, cheguei numa época a acreditar que era um avatar do Jim Morrison. Comecei a ler Jack Kerouc, Aldous Huxley, Kafka e Nietzsche, para restringir por aqui o meu nível de entorpecimento. Então, para bom caixeiro viajante um conjunto de referências literárias destas já é suficiente para definir meu #wayoflife de tempos atrás e comercializá-lo com a curiosidade alheia.
Com o tempo as coisas melhoraram. Acabei centrando minhas ideias, desisti por hora de ser um astro do rock de vida breve e resolvi fazer uma faculdade e mergulhar em estudos ocultistas – quer dizer, as coisas não melhoraram tanto. Porém, já tinha passado a acreditar que tinha uma missão na terra e isto precisava ser cumprido até os trinta anos – o que me conferia uma sobrevida. Confesso que nunca soube o que, mas agora chegando aos trinta anos, mesmo com esta ideia messiânica já removida, sua impregnação cala no meu espirito e me cobra por algo que não sei o que é, mas que me atormenta direto...
Desde o final da adolescência venho sendo acometido por sonhos muito confusos. Neles, me vejo projetado no tempo em cerca de dois anos. Nisso, está tudo um caos e eu fico tentando compreender o que aconteceu. Num recente, sonhei que havia sido preso e fugido da cadeia. Quando voltei para casa, meu apartamento havia sido demolido, minha esposa casada com outro, minha mãe morta e eu careca (!). Parece engraçado, mas no sonho é uma angustia tremenda. Mas a parte mais tensa acontece quando eu acordo: olho para o lado e não consigo identificar quem está dormindo comigo, onde estou e que tempo e espaço eu me situo. Isso dura uns minutos, depois passa e eu fico impressionado o dia inteiro.  
É curioso, mas é justamente nesses sonhos que consigo, de alguma forma, (me)  projetar (n)o futuro. Já tentei fazer planos para mais de cinco anos, mas nunca consigo e tudo o que se forma na minha mente é um quadro impressionista e pontilhado. O triste disto, é que sinto que às vezes decepciono quem está ao meu lado com esta atitude por vezes pragmática ou finalista ao excesso, focando a vida no presente e nunca num futuro distante - que é o normal entre pessoas que unificam seus sobrenomes e almas. 
É fato, tenho dificuldades até mesmo em planejar o amanhã. Por vezes, sou acometido por coisas que nem sei se são reais e por outras que de tanta certeza de sua realidade me faz pensar que o melhor é estar aqui, quieto no presente, sem lançar os olhos para um passado que não recordo e nem me precipitar para um futuro incógnito, para não correr o risco de errar novamente, ou talvez, nunca acertar.

Att.
Diego A.

2 comentários: