quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

“Alô, em que posso vir a estar te ajudando”.

Acabei de retornar de uma reunião de conselho de classe. A instituição em questão consegue ser uma das mais objetivas quando se trata de definir os rumos que deverão ser seguidos, os alunos que deverão ser reprovados, etc. Em uma hora de reunião, foram passadas, tranquilamente, seis turmas. Exemplo de objetividade, foco e profissionalismo. No entanto, como não poderia ser diferente, meu contato com outros de minha espécie e casta profissional me fez refletir sobre algumas coisas do ambiente de trabalho, bem como da vida como um todo, e é isso que gostaria de compartilhar brevemente com vocês:

       1) Quais são os limites da educação/demagogia e da pro-atividade num ambiente capitalista e pragmático?

       2) Até que ponto vale a pena o esforço de algumas pessoas em mudarem outras, quando estas simplesmente não possuem o desejo de mudança?

No primeiro questionamento me refiro à atitude de alguns colegas de profissão quando devem opinar sobre a reprovação ou não de um aluno, ou quando são convocados a votarem sobre um ponto. Não acho censurável que muitos estejam condicionados ao “voto de cabresto”, tão pouco covarde por cederem à “tirania da maioria”, perpetrada por boa parte de meus diletos companheiros de jornada laboral. Muitos não querem problemas maiores e optam por defenderem a posição do “chefe” ou grupo dominante, mesmo que isso represente algo em que eles não acreditam. Eu entendo... Hoje é muito difícil conseguir lugares decentes para lecionar.  São poucas vagas e muita concorrência. Acabamos fazendo parte de uma minoria de profissionais mais ou menos bem remunerados e não podemos colocar isso a perder por conta de pontos de vista, muitas vezes, mutáveis. Por outro lado, o mercado de trabalho exige pessoas pro-ativas, engajadas com as instituições, trazendo contribuições e soluções devidas ao crescimento do setor.  E é aqui que entra o dilema: qual atitude ter num momento em que se deve ter pro-atividade, e ao mesmo tempo não ameaçar o seu emprego com posicionamentos diferentes da maioria? Muitos apelariam para a retórica e estratagemas, mas que no final apenas revelaria uma faceta pior ainda: a demagogia. Este é o grande problema que tantos de nós enfrentam neste final de ano escolar. Sobretudo, quando somos parte daqueles que muitas vezes, se fosse numa repartição pública, seriam considerados reacionários, radicais, arrogantes e estúpidos.
No segundo questionamento, me refiro à conduta de certos alunos em relação ao investimento que seus pais promovem. Há escolas em gyn com mensalidade próxima a 1,300 reais, para ficar só no básico. Bem, com muito menos do que isto vive a chamada classe emergente do país de Lula e Restart.
Hoje teve uma aluna que havia ficado para recuperação em oito matérias (inclusive Ed. Física). Tal aluna não possuía nenhum TDAH ou trauma diagnosticado que pudesse atenuar seu desvio cognitivo. Possuía uma renda familiar invejável e condições de estudo tranquilas. Trata-se de uma bela jovem e tão bem articulada quanto a Preta Gil ao falar de aborto. Há atitudes dela que me levam a crer que a mesma possui lepra no telencéfalo, de tão limitada que consegue ser. Ás vezes, a impressão é que ela vive um mundo à parte, colorido, distante e convidativo, onde o passaporte para esta dimensão consiste em entrar em transe sonambúlico durante as aulas.
Sempre costumo dizer aos meus alunos: “seios e herança um dia caem e não duram para sempre. No final das contas, o que sobra é a inteligência e os pais. Se você não desenvolve a inteligência e não honra os seus pais ao menos fazendo valer o que eles investem, se preparem para deixarem de ser o futuro da nação para serem mais um na estatística da mediocridade”.
Bem, alguns me acham arrogante com isso, outros entendem o recado. Mas estes últimos, nem precisavam do recado, enquanto que os primeiros ainda acreditam que podem comprar tudo a partir dos rendimentos que a “Colheita feliz” vai promover ou que sua “beleza” cunhada com photoshop e postada no tumblr vai acarretar. Vejo que não adianta; quem não quer melhorar não aceita ser ajudado. Espero que um dia, estes mesmos, possam aprender a dar valor à vida e às oportunidades que lhes foram concedidas . Desejo que isso não venha por se deparar com o resultado de um vestibular frustrado ou com a noticia de que a vaga pleiteada para assistente de telemarketing foi preenchida por alguém mais competente para dizer : “Alô, em que posso vir a estar te ajudando”.
Att.
Diego A.

Um comentário:

  1. Mandou bem, Diegão!
    Apesar de contextos diferentes do seu (profissão, colegas, "clientes"), as reflexões são pertinentes!
    As vezes (quase sempre) me pego nesses banzos e não encontro respostas... Só tento continuar seguindo em frente...

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