terça-feira, 28 de dezembro de 2010

"E quando vi, eu já era dois" (parte 1)


Venho visitando pouco os amigos... Na verdade, descobri que me restaram um número muito pequeno deles. Um destes está fazendo doutorado na Espanha, o outro, também, só que na Unicamp. Sobraram-me outros três bem próximos e nos encontramos com certa regularidade em mesas de jogos ou no Kwon. Fora isso, venho nutrindo uma amizade legal com colegas de profissão. Poucos, diga-se de passagem, também. Um deles, por coincidência, também está na Espanha a turismo e os outros, viajando pelo norte do Brasil. O que há de comum nisso tudo? Simples – ou tétrico – todos os meus atuais amigos estão longe de mim e mesmo os que estão perto, compartilham de uma não-vida: a virtualidade; ou de uma vida distante do cotidiano: a marcial. Tudo bem, o Kwon me oferece uma gama de “irmãos de treino” que não tenho que reclamar: são atenciosos, hilários, nerds. Possuímos diversas afinidades culturais e que rendem boas conversas (e risadas) pós-treino. Há também casais de amigos muito valorosos, de ótima companhia espiritual e gastronômica. Mas ainda assim falta algo...
Dias atrás reencontrei um velho amigo, daqueles que você se vê precipitado ao contato em tenra infância. Passamos por muitas coisas juntos no início da adolescência, embora nunca tenhamos sido grandes confidentes. Compartilhei com este amigo as primeiras lisergias, os primeiros discos de rock, as primeiras tatuagens, os primeiros vestibulares, as primeiras decepções amorosas... Numa época em que pensei que ia partir dessa para uma pior – e que ele iria junto acendendo o pavio – descobrimos caminhos espirituais distintos, mas necessários em nossa “regeneração”. A partir de então, nos afastamos um pouco. Logo ele se casou e foi ter uma vida mais reservada. A vida seguiu... Mas vez ou outra nos encontrávamos ainda nos corredores da UFG e conversávamos sobre poucas e boas coisas. A vida seguia para mim também...
 Reencontrando esse amigo recentemente, numa confraternização de escolas, me veio um pensamento/questionamento: por qual razão não conseguimos sustentar as mais velhas amizades quando elas são as que mais profundamente nos constituíram? Penso que, geralmente, quando tais amizades começam desde a infância e atravessam a adolescência elas estão sujeitas às intempéries dos hormônios e das mudanças de personalidade. Por diversas vezes ofendi amigos, proferi impropérios, rompi temporariamente relações por mero capricho, crise e inconstância – e olha que nem tenho TPM. Penso que todo adolescente já deve ter findado diversas relações por crises meramente hormonais; devem ser por isso que se arrependem e sofrem muito mais do que qualquer adulto em fim de relação.
Em outra via, existe também um agravante com amizades que florescem cedo: a cultura é uma coisa dinâmica. Refiro aqui a cultura como um conjunto de crenças, valores, costumes e tradições que constitui a identificação de um sujeito histórico-social. A cultura individual sofre transformações e redimensionamentos a vida inteira, mas são em duas fases que penso eu, ela mais se cristaliza: 1) na infância – com a “(des)educação da família”; 2) na adolescência – com a “(des)educação social”. Na primeira fase as amizades que surgem são reflexos da identidade que se construiu. Na verdade, não há nada muito complexo em termos culturais, por isso as companhias afloram. Na segunda fase, começam a afunilar o circulo de amizades. Tais são orientadas por predileções, gostos estéticos, juízos de um mundo paralelo, expectativas de um porvir caricato. E é aqui que começam os problemas (ou não). Com o tempo, estes mesmos gostos que outrora unificaram simpatias, agora se reestruturam e buscam alçar outros voos gustativos e existenciais. E nisso, há rupturas. E em todas elas, o seu efeito brusco promove cortes, ardências e dores.
É fato, não sei se é da natureza (condição) humana ou se é parte da cultura judaico-cristã que estamos inseridos que faz com que não sejamos capazes de aceitar a diferença. O outro é sempre o errado, o indigesto, o herege. Nossas tendências são sempre justificadas, castas de intenções e nobres de projeções. Quando as amizades começam a se efemerizarem – e nem digo por brigas, traições, etc – é por que estas já não encontram mais o calor da afinidade promovida pelo compartilhamento de tendências e experiências. Amizade sincera e madura é algo raro e poucos de nós somos capazes de sustentá-las.  Nós estamos sempre em mudança, mas não podemos aceitar que outros mudem. Compreensível, pois mudanças geram rupturas e a zona de segurança que mantém uma amizade não pode ser atravessada sem percalços. Somos egoístas, enfim, e muitas amizades nada mais são do que duplicações do egoísmo: um “ambi-egoismo” – se é que isso exista.
Nesse trajeto de vida, perdi muitas amizades. Algumas delas (muitas) me sinto diretamente responsável pelo seu fim. Fui intransigente, relapso, distante. Em outras, fui próximo demais, atencioso ao extremo e acabei me anulando. Em todas elas cometi erros que redundaram em um afastamento que só vim perceber seus efeitos danosos tempos depois, bem como suas causas. Por outro lado, muitas amizades se foram por “culpa” não necessariamente minha. Sempre tive um imã para atrair pessoas com sérios problemas emocionais (não mais ou menos do que eu). Muitas dessas exigiam de mim algo além do que poderia oferecer. Queriam que eu representasse a cura para os seus males – que se caracterizavam por uma dose diária de exclusividade e elogios. Algumas dessas amizades eu sinto muita falta. Outras merecem de fato estarem no meridiano atual que se encontram...
Como disse no inicio, me falta algo. Sempre me sinto um apátrida ou um Aquiles tentando provar para mim mesmo que a vida realmente vale a pena e que há um propósito para a sua execução. Não sou depressivo, muito menos maníaco suicida, mas sempre questiono o sentido da existência. Dizem que o vazio existêncial é a ausência de Deus em nossas vidas. Que desde a aludida e metafórica queda do homem, o seu distanciamento se apresenta como angustia profunda por esse retorno. A teoria das almas gêmeas seria na verdade, uma metáfora para a nossa re-conexão necessária com a divindade. Por isso que sempre nos sentimos incompletos nas relações socais, sendo a paixão apenas um anestésico para refrear a nossa crise espiritual... Então as vezes, acho que tenho saudade de Deus!
Mas não me entendam mal. Encontro-me hoje bastante satisfeito com as amizades que cultivo e com o amor que compartilho entre os que me são caros. Com o tempo, aprendi a respeitar mais o momento de cada um – embora eles entendam como afastamento ou não afetividade. Sobraram-me amigos valorosos que, dependendo do contexto, posso sempre contar com um ou outro. Aprendi que o grande equivoco é buscar a integralidade da cumplicidade. Ninguém pode me entender completamente, assim como não posso entender completamente os outros. Tenho minhas crises e somente a mim competem a sua resolução, assim como os outros têm as suas e competem a eles a administração. Pode parecer muito frio de minha parte, mas vejo as amizades nessa relação de custo benefício: elas servem para partilhar momentos felizes ao nosso lado e nos escutar quando precisamos não de resolução, mas apenas de atenção. O resto compete somente a nós, seja em cuidarmos de nossa carência, de nossa solidão, ou de gerirmos o nosso afastamento de Deus.

Att.
Diego A.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Entre o ócio e o negócio



É chegado o fim do ano letivo. Depois de metade de uma década venho me questionando acerca da minha continuidade neste ramo de entretenimento, arte, padecimento, menos educação...Conversando com alguns colegas de trabalho percebi que quanto maior o tempo de docência, maiores são as insatisfações, paranoias e desabafos. Chegando ao fim do ano, acaba o desespero de sala de aula, no entanto, começa um pior: saber se continuamos na mesma instituição, quantas turmas se formarão, qual instituição substituir por outra e se haverá gestores ainda interessados no seu perfil. Ao contrário de outras áreas, quanto mais velho se fica em sala de aula, menos atrativo se é para o mercado...
Nunca quis viver esta tensão profissional (acho que ninguém). No meu caso específico, nunca achei que o trabalho dignifica o homem – antes, penso que ele enriquece o patrão e arranca sua saúde a troco de uma justificação social e espiritual, construída por uma cultura burguesa e cristã. No entanto, tenho família(s) para sustentar e não herdei nenhuma herança que não fora o aprendizado acerca do que não se deve fazer financeiramente. Por isso, tenho que trabalhar e se for para fazer algo que sugará a minha alma, que seja pelo menos com um pouco de diversão em alguns momentos...
Por diversas vezes, me divirto muito em sala de aula. Conheço aluno(a)s bacanas e que merecem transcender a mera relação profissional. Meus colegas de trabalho, por viverem dramas semelhantes, acabam se tornando confidentes inestimáveis. Sempre que sou visto em lugares públicos, há um carinho legal por parte dos alunos, um respeito por parte de muitos pais. Felizmente, sinto que sou até bem sucedido no que faço.  Não me imagino fazendo outra coisa a não ser lecionar e pesquisar. Sinto que estou cada vez melhor em sala de aula. Meu quadro mais organizado, minha dicção mais teatralizada, a ironia mais afiada porém direcionada, o sarcasmo mais comedido e o domínio de conteúdo mais profundo e objetivo. Sinto também que consegui me organizar mais burocraticamente – o que em muitas instituições valem mais do que formação, talento e carisma. Minha relação com os alunos transcendeu a admiração pelo meu lifestyle e vem se constituindo pelo que obrigatoriamente tenho que oferta-los: cuidado, atenção, cordialidade e compromisso com sua formação pragmática.
A rigor, não teria muito que reclamar. Leciono em excelentes instituições de ensino e na maioria delas tenho um ótimo relacionamento com os alunos, com a coordenadação, a direção e até os pais. A cada ano, melhor me coloco no mercado e me desvencilho de comportamentos, crenças e valores que por mais nobres que possam parecer não me levam a uma qualidade de vida melhor, nem faz com que ninguém se beneficie diretamente com isto. Então, a experiência traz alívio...
Uma das últimas crenças que rompi foi em relação a acreditar que o que move as instituições de ensino no Brasil seja a educação, a formação crítica e multidisciplinar, o respeito pelo profissional. No Brasil, professores são tratados pelas instituições como freelancers na hora do pagamento, mas como santo milagreiro na hora dos problemas. Possuir formação acadêmica pode ser válido se o objetivo é se concursar numa instituição federal, mas que nada vale para nem sequer conseguir um aumento de salário na educação básica. Nos cursinhos pré-vestibulares, penso que se não houvesse CLT, estaríamos a esta hora pagando para termos a honra de dar aulas para turmas com cerca de 100 alunos por sala. Se há um feriado, recesso, todos recebem e os alunos continuam pagando a mensalidade, mas o professor, o freelancer, não pode receber, porque não foi “dada a aula”. No mesmo circo, os alunos estão cada vez menos interessados no que temos a dizer. A impressão é que há uma relação comercial estabelecida: os proprietários querem vender um produto – a aprovação, os alunos querem compra-la a todo custo – ilicitamente; e nós, professores, somos os que dificultam a transação comercial por simplesmente fazermos o nosso trabalho. Educação no Brasil é mercadoria made in china, com embalagem bonita e sem garantias. Por um tempo, acreditei que poderia desenvolver a capacidade critica dos alunos, descortinar um universo de teorias e visões de mundo. No entanto, com pouco tempo percebi que isso não se cobra no vestibular, portanto, não é mercadoria relevante. Ainda, corre-se o risco de se ofender a “crença” de um aluno e o seu “pa(i)trocinador” não quer ver o desempenho de seu atleta ser desgastado com ginástica mental desnecessária –  no entanto,  paradoxalmente, espera –se que “construamos” valores e repensemos  a cultura. O que muitos não consideram é que aquele que mais é afetado em seus valores é justamente aquele que é posto em réu num julgamento pautado pela toga da conveniência.
Estou consciente do meu papel profissional. Não tenho que dar aula... Tenho que dar show! Não tenho que construir e transmitir uma ideia... Tenho que formatar uma síntese de fácil assimilação e reprodução! Sem problemas depois que se compreende a engrenagem. O triste é ter desvio de função na área e a ainda receber pouco por isso. Não me entendam mal. Acho que como seres humanos, não podemos nos restringir à uma avaliação objetiva ou trato meramente profissional com aqueles que nos chegam. No entanto, não quero, não posso e não devo ser pai, padre, psicólogo ou amante de pais, alunos e responsáveis. Não sou mal remunerado perante as minhas necessidades, mas acho que perante o que se espera que façamos, deveríamos ter três férias ao ano, duplo descanso remunerado e indenização por insalubridade, além de seguro contra Burnout. Talvez assim, comece a ser interessante se tornar professor nos dias de hoje no Brasil.

Att.
Diego A.

Caminhos filosóficos Pt.1

Interessante como certas coisas tomam rumos diferentes na nossa vida e às vezes retornam com profusão e sentido maior... Comecei a graduação em Filosofia imerso nas leituras de Nietzsche, mesmo sem entender muito do que se tratava, embora crente que estaria no rumo. Com o tempo, e com as leituras dos clássicos, me distanciei deste autor exatamente por aceitar que para entendê-lo, deveria, antes, compreender os problemas e autores que ele tratava/criticava. Para isso, era essencial o estudo dos clássicos. Conclui que precisava estudar o prévio e com o tempo, este se tornou o necessário e o bastante... Por pouco tempo...
No meio da graduação, comecei a me interessar por Lógica e Filosofia da Linguagem. Foi um flerte rápido, efêmero, de efeito inebriante, produzindo um frenesi inicial e deixando marcas profundas e jamais removidas, clamando por uma recaída ou feedback, mesmo frente a novas resoluções e momentos. Acho que é isso que chamam em outros contextos de “paixão”. Mas como toda paixão, passou, embora deixando rastros... Logo em seguida me veio a obra de Jean Paul Sartre, causando impacto semelhante ao que Nietzsche promoveu em mim, na inconsequência da juventude. O diferencial é que agora sabia dialogar mais com a tradição filosófica, o que me permitiu mergulhar mais neste filósofo sem correr o risco de me tornar panfletário ou entusiasta demais, como fora com o “bigodudo”.
Em todo caso, como leitor mais curioso do que disciplinado, li apenas os textos básicos de Sartre, e muito do que se comentou sobre ele – como todo “bom” estudante de filosofia no Brasil faz... E o que me motivou nas leituras de Sartre mesmo eu não sendo ateu? Talvez o mesmo que me motivou ler outrora Nietzsche e tempos depois Freud: a capacidade que ambos tiveram de (des)construir significados sem a necessidade de algo estritamente metafísico.  Mesmo sendo teísta, a justificativa para valores e comportamentos que transcendem a fundamentação teológica já me causam fervor e admiração, mesmo não concordando por diversas vezes...
Jean Paul Sartre, enquanto existencialista, defende a tese de que “a existência precede a essência”. Isto significa romper com uma cadeia de justificação anímico-metafísica, afirmando que o homem formata a sua existência somente depois de se projetar no mundo. Em outras palavras, não existe um Deus criador, que nos concebeu e criou a partir de uma teleologia própria e prévia. Sendo assim, o homem meramente existe, e a sua “essência” ou projeto será apenas aquilo que ele fizer de si mesmo.  O homem em Sartre, portanto, nada mais é do que o seu projeto, um “ser-para-si”, aberto à possibilidade de construir ele próprio a sua existência, sem que para isto haja modelo ou essência para lhe orientar o caminho. Seu futuro se encontra disponível e aberto, e dos dizeres de Sartre: “condenado a ser livre”... Se no homem a existência “precede a essência”, ele é responsável por aquilo que é ou por suas escolhas, uma vez que nada pode condicionar definitivamente o seu comportamento, nem uma maldição hereditária, nem um “gene egoísta”. Escolher o que ser é afirmar ao mesmo tempo o valor do que escolhemos, como e o porquê desta escolha...
Sartre afirma que: “não importam o que os outros fizeram de você. O que importa é o que você fará de ti a partir do os outros supostamente o fizeram”. Isto implica em admitir que, embora possamos ser pré-condicionados por fatores, pessoas e crenças, o que torna inestimável o valor de nossas ações é administração que operamos das circunstâncias. Neste sentido, somos intrinsecamente e, por que não dizer, exclusivamente responsáveis pelo nosso ser-no-mundo. Somos, portanto, livres. Não no sentido meramente arbitrário, de escolhas sem consequências, ou ações sem reações. Somos livres na medida em que temos as condições de escolhas e que não há nada que determine inexoravelmente nosso arbítrio.
O homem, ao perceber que “não há um Deus”, ou um projeto pré-determinado para sua existência se angustia, exatamente por agora experimentar uma verdadeira liberdade. A sentir-se como um vazio, o homem vive a angústia da escolha. Doravante, muitas pessoas não suportam essa angústia, fogem dela, escorando-se naquilo que Sartre nomeia como “má fé”. Tal se traduz por atitude característica do homem que finge escolher, sem na verdade escolher, imaginando que seu destino está traçado, que os valores são dados.
Nossa existência, como pensa Sartre, deve permear a verdadeira liberdade. Tal senda afirma a condição existencial do homem sobre a terra: atesta a sua finitude, estabelece o seu verdadeiro fundamento ontológico, e conclama uma responsabilidade ética frente aos seus atos, uma vez que somente ele é o arauto de seu destino, baluarte de suas escolhas.
Embora tenha me afastado das leituras de Nietzsche, não consigo desvencilhar por completo sua filosofia “aristocrática” daquilo que pensa Sartre sobre a existência humana. Nietzsche afirma que somos produtores de valores e que é preciso identificar os instrumentos sociais que domesticam os indivíduos para que ele aja de acordo com valores dados. Contrapondo, Nietzsche valoriza o “espírito livre”, que recusa a imposição de normas e fórmula prontas de comportamento. Não se trata, portanto, de desprezo por valores, mas de uma atitude necessária de constante questionamento acerca de nossas crenças e padrões valorativos.
O que é central - seja em Nietzsche nos conduzindo à reflexão sobre as “amarras teo-psico-sociais” que condicionam nossos comportamentos a agir de forma não-livre, ou Sartre afirmando que mesmo mediante tais amarras, ainda assim somos responsáveis pelas consequências advindas - é que ambos colocam a autonomia como pedestal necessário ao alicerce da verdadeira “humanização”. Comecei meu interesse em Filosofia por Nietzsche e hoje me vejo emaranhado no pensamento de Sartre, mas inusitadamente com uma aura nietzscheana. O elo ou teia, sem dúvida para tal entrelaçamento ou fator cíclico é exatamente o que pulsa em mim desde a adolescência e que continua vivo, a despeito de “outras amarras”: a inquietação por não aceitar estruturas prontas e acabadas, mas por outro lado, admitir a responsabilidade que uma “náusea sartreana” promove – a verdadeira “boa fé”, enfim, por aceitar que embora “só”, somos eternamente livres, doravante, responsáveis pela construção de nossa existência.

Att.

Diego A.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Complexo de Aquiles Pt.2

Sempre gostei do mito de Aquiles... Muito mais pelo seu aspecto psicológico e filosófico, do que literário. Vejo nele um arquétipo que representa a condição existencial da maioria de nós sobre a terra: o temor pela finitude, o pavor frente à possibilidade de se ter uma vida restrita ao comum , e a angústia de ter o seu destino condicionado ao arbítrio de alguém chamado "acaso".  Aquiles representa todos  aqueles que cientes de sua humanidade e da distância que nos separa da infinitude dos deuses, olha para si e encontra as condições necessárias para atingir um outro tipo de imortalidade, mesmo que a custo do sofrimento e mediante o temor do fracasso....
Segundo a mitologia grega, Aquiles teria escolhido o caminho da honra e da glória, mas também da existência curta e breve. Temia uma vida apagada e não relevante, doravante, tranquila e longeva. Sua experiência afirmava a assertiva de que “os eleitos dos deuses morrem jovens”.... Doravante tal  "eleição", Aquiles se mostrava indigesto quando à veneração que os mortais - seus iguais - tinham perante os deuses. Sua obsessão por atingir a imortalidade não era para se igualar a um deus, mas para fazer de si algo distinto deste, porém mais nobre. Tal distinção valorativa se referia a ter, pelos atos bélicos, ou pelas palavras de efeito, uma ação que permitisse com que seu nome fosse gravado na memória do porvir. Uma vida plena de novidades e anseios, de esperanças e de consolações nos atos gloriosos, ao contrário de uma vida tediosa, porém, ilimitada dos deuses – que por sua triste sorte, indefinidariam o seu tédio na poeira do tempo, invejando os mortais por fazerem de sua vida uma nova constância...
Numa perspectiva filosoficamente existencialista, a tragédia de Aquiles nos mostra o nosso temor frente à finitude, mas ao mesmo tempo o nosso destemor com o adiante, uma vez que só nos resta  construir o próximo segundo e não mais aguardar tétricamente pelos próximos minutos... Não se trata de um fatalismo que anula a nossa ação ao romper com a esperança de uma imortalidade. Ao contrário, Aquiles vê na imortalidade física uma pré-condição para o tédio, ao se passar os usufrutos efêmeros. Um deus sempre saciado, imperecível, que jamais padecerá da fome, do frio ou da morte por uma espada, jamais saberá qual o frescor da novidade e do anseio, uma vez que isso não habita em seu espírito. Ao contrário, um homem ciente de seu fim, sem esperanças concretas da realidade de um post-mortem, faz do seu instante algo único. Luta, levanta, chora, ri, confabula, ama aos outros e apaixona-se, pouco se ama e muito se estima... Nesse afã, faz de cada dia uma aurora de novidade e cada anoitecer um crepúsculo de realizações. Distantes disto, aos deuses só restam a lamúria dos mortais e a honra fingida por parte daqueles que os temem, mas não os amam verdadeiramente. É nesse sentido que Aquiles afirma que “os deuses têm inveja de nós”. Somente os homens podem ser arautos de seu destino e imprimir na posteridade a marca de seus feitos e palavras, que os libertam do esquecimento e tingem a sua marca indelével na memória dos que virão, formatando assim um novo tipo de imortalidade, mais duradoura e inebriante.
Trazendo para meu universo, como afirmei, sempre gostei de Aquiles, por de alguma forma me enquadrar em seu arquétipo. Desde muito cedo sempre me senti um apátrida. Sem lar, sem direção, sem nacionalidade. Tinha a certeza de que não viveria muito tempo e queria sempre encontrar uma explicação para o fundamento de certas assertivas da qual insistiam em me catequisar. Por diversas épocas, sentia que tinha algo a realizar “aqui na terra”, só nunca soube o que era exatamente. Nunca gostei, portanto, de ter uma vida comum. Nunca fui um aluno, um jogador, um músico, um filósofo ou amante comum. O óbvio, o que tem respostas prontas, os caminhos já trilhados, nada disso se fez presente e inexorável em minha vida. Sempre optei por caminhos alternativos e por pontes e areias movediças, mas que ao final me traziam, senão o lugar, ao menos a certeza de que o caminho mais uma vez se bifurcou – e que maravilha e densidade seriam trilhar novamente o desconhecido em busca de algo que reclama a sua existência numa fagulha de expectativas.
Sinto que a minha existência deve servir para algo mais do que simplesmente envelhecer sentado a uma cadeira recordando aquilo que não vivi. Sinto que preciso mudar algo que não seja aquilo que todo mundo quer mudar: os outros. Vejo minha vida e creio que preciso romper barreiras, dogmas cristalizados e complexos difusos. Só assim, serei capaz de transcender uma vida comum, apagada, e colocar a minha existência no rol digno dos quadros que precisam ser lembrados pela posteridade, seja para deleite ou para escárnio.

Att.
Diego A.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Complexo de Aquiles Pt.1

Meu aniversário foi há quase dois meses. No entanto, só hoje me dei conta que estou chegando aos trinta anos.  Bem, é uma marca boa de sobrevida para quem acreditava que não ia passar dos vinte e três... Daí, hoje, refletindo sobre minha vida, vi que já passei por muita coisa e que é possível que eu continue vivo por muito tempo ainda, o que significa acumular xp suficiente para um up necessário para a próxima existência. Mas ainda assim, há algo que me atormenta de modo velado, sútil, mas que se prolifera como metástase: uma febre do “ser”.
Quando disse que não acreditava ter muito tempo de vida eu estava dizendo a verdade. Começou com uma cisma de criança e evoluiu para uma quase certeza cartesiana indubitável. Quando criança, “Diego” era o nome da moda. A homenagem imediata era ao homônimo jogador argentino que “brilhava muito” em 1982. Minha mãe queria o nome “Vinicius”, para combinar com o “Moraes” de meu pai. Destarte, “Vinicius” não era um nome bom, de qualquer forma, e meu pai queria prestar uma homenagem ao seu ídolo (!)... Pois bem, a minha inculcação dizia respeito a nunca ter conhecido alguém que tivesse o meu nome, contendo mais de vinte e três anos. Esse era o recorde. Daí achava que quando chegasse nessa idade seria arrebatado para Sodoma ou Tattooine. Depois de um tempo, meu problema passou a se direcionar para uma dificuldade específica que tenho até hoje: a de projetar o futuro. Parecia que todos os meus planos não atravessariam nunca a idade fatídica de vinte e três anos e qualquer esforço seria um desgaste que anteciparia ainda mais este momento. Já na adolescência, meu ritmo de vida não era dos mais edificantes. Para terem uma ideia, cheguei numa época a acreditar que era um avatar do Jim Morrison. Comecei a ler Jack Kerouc, Aldous Huxley, Kafka e Nietzsche, para restringir por aqui o meu nível de entorpecimento. Então, para bom caixeiro viajante um conjunto de referências literárias destas já é suficiente para definir meu #wayoflife de tempos atrás e comercializá-lo com a curiosidade alheia.
Com o tempo as coisas melhoraram. Acabei centrando minhas ideias, desisti por hora de ser um astro do rock de vida breve e resolvi fazer uma faculdade e mergulhar em estudos ocultistas – quer dizer, as coisas não melhoraram tanto. Porém, já tinha passado a acreditar que tinha uma missão na terra e isto precisava ser cumprido até os trinta anos – o que me conferia uma sobrevida. Confesso que nunca soube o que, mas agora chegando aos trinta anos, mesmo com esta ideia messiânica já removida, sua impregnação cala no meu espirito e me cobra por algo que não sei o que é, mas que me atormenta direto...
Desde o final da adolescência venho sendo acometido por sonhos muito confusos. Neles, me vejo projetado no tempo em cerca de dois anos. Nisso, está tudo um caos e eu fico tentando compreender o que aconteceu. Num recente, sonhei que havia sido preso e fugido da cadeia. Quando voltei para casa, meu apartamento havia sido demolido, minha esposa casada com outro, minha mãe morta e eu careca (!). Parece engraçado, mas no sonho é uma angustia tremenda. Mas a parte mais tensa acontece quando eu acordo: olho para o lado e não consigo identificar quem está dormindo comigo, onde estou e que tempo e espaço eu me situo. Isso dura uns minutos, depois passa e eu fico impressionado o dia inteiro.  
É curioso, mas é justamente nesses sonhos que consigo, de alguma forma, (me)  projetar (n)o futuro. Já tentei fazer planos para mais de cinco anos, mas nunca consigo e tudo o que se forma na minha mente é um quadro impressionista e pontilhado. O triste disto, é que sinto que às vezes decepciono quem está ao meu lado com esta atitude por vezes pragmática ou finalista ao excesso, focando a vida no presente e nunca num futuro distante - que é o normal entre pessoas que unificam seus sobrenomes e almas. 
É fato, tenho dificuldades até mesmo em planejar o amanhã. Por vezes, sou acometido por coisas que nem sei se são reais e por outras que de tanta certeza de sua realidade me faz pensar que o melhor é estar aqui, quieto no presente, sem lançar os olhos para um passado que não recordo e nem me precipitar para um futuro incógnito, para não correr o risco de errar novamente, ou talvez, nunca acertar.

Att.
Diego A.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Dificuldades em ser um filósofo “comum”

Por diversas vezes sou questionado acerca de minha escolha acadêmica/profissional. Depois de um tempo - e com um relativo “sucesso” profissional – as perguntas sobre meu futuro econômico desapareceram. Tenho certeza que a maioria ainda pensa que num momento, tudo vai dar errado e eu vou ter que me isolar numa montanha, vivendo de fritada de insetos e bebendo caldo de cacto... Não escolhi ser professor de filosofia. Na verdade, nunca soube o que quis fazer profissionalmente (e na verdade nem sei ainda). Tenho resistências em acreditar que o trabalho “dignifica” o homem e sempre pensei que o curso de filosofia me traria outras vantagens, que não econômicas, mas que nem por isso, piores – ao contrário. Acabei me tornando professor por forças das circunstâncias e não me arrependo, por hora, disto. Em outra esfera, há aqueles que me questionam sobre meu consumo regular de drogas (!). Na verdade, hoje em dia, as perguntas que insistem em relacionar drogas e a atividade do filosofar também cessaram dado à minha postura declaradamente abstêmia. Como sabem que não bebo ou fumo e não uso outros tipos de drogas e ainda sou vegetariano, o velho estereótipo do filósofo “viajão” acaba não se aplicando a mim - e isto faz com que algumas pessoas já estejam “conformadas” com isto, embora sempre digam: “hum, sei...”.
No entanto, três rótulos ainda insistem em me fixar por parte daqueles que me conhecem há pouco tempo: a) “bissexual”; b) “comunista”; c) “ateu”.  Vamos lá para as justificativas e fundamentações.
a)         Não sou bissexual e nunca fui. Muitos pensam isto talvez por acharem que nos cursos de filosofia rola muita orgia (que curso de um federal não tem?) ou por que os primeiros filósofos gregos “eram” e, logo, todos os que estudam filosofia hão de ser. Bem, todos sabem que nada tenho contra a opção sexual de minorias. Já tive amigos gays e isso nunca foi um problema para mim. Sou a favor da união civil entre homoafetivos e se algum dia tiver uma pulsão por esta prática, levarei isso como um desejo e não como uma anomalia. Mas para a decepção de alguns, não sou bi, tri, tetra ou pan.
b)         Também não sou comunista. Penso que as pessoas assim nos tacham pela herança que as faculdades de ciências humanas angariaram nos últimos 30 anos por força das influências teórica-sociais vivenciadas pelos universitários de outrora. Outra hipótese é o fato de falar apaixonadamente em minhas aulas, de Marx. De fato, o acho um avatar, mas isso não faz com que eu acate as suas determinações materialistas ou venha a aceitar integralmente suas ideias. Também aprecio Nietzsche e Sartre, além do Ozzy, e nem por isso me nomeio Roquentin, saindo com uma cópia do Zaratrusta e cantando N.I.B nos corredores de escolas. Confesso que na adolescência tive uma fase “camarada”, me filiando à “UJS” e todos sabem que o meu voto sempre foi de “esquerda”, além de ser muito crítico ainda em relação ao capitalismo, do ponto de vista filosófico. Mas não, não sou comunista!
c)         Incrivelmente também não sou ateu. Não creio que as justificativas religiosas são boas para explicar o sentido da vida ou mesmo sua origem, da mesma forma como que acho que a ciência dá as suas tropeçadas e nem possui condições epistemológicas e metodológicas seguras para afirmar algo de forma irretorquível. Como todos sabem, me interesso muito por orientalismo e tenho uma visão de Deus muito próxima ao que certas correntes budistas apregoam, embora faça parte de uma doutrina declaradamente cristã.  Estudo o espiritismo por que não consigo encontrar em outro tratado uma explicação e operacionalidade para certas coisas que vivencio. Se um dia encontrar isso em outra forma explicativa, mesmo sendo a ciência, não teria problemas em romper com minhas crenças. No final das contas, pensando cientificamente, acho Deus uma hipótese muito boa, e pensando religiosamente, acho que a ciência ainda está caminhando rumo a algo mais transcendente que por hora nem ela é capaz de reconhecer.
Como podem perceber, não sou um filósofo convencional. Não sou ateu, nem comunista, nem bissexual, nem passo fome ou uso drogas. Na verdade, grande parte dos meus colegas de faculdade não se encaixa neste perfil simplista de “filósofo louco”. Talvez um ou outro se enquadre neste quadro barroco de woodstock, mas a maioria ainda são pessoas “normais”. O que nos unia e identificava era o desejo de tentar compreender o mundo sobre diversas perspectivas e dar significado a coisas distantes do senso comum. Alguns conseguiram isso bem, outros ainda estão na estrada. E eu... continuo vagando...como um filósofo que ainda busca a sua topografia existencial e teima em não se alojar no comum.

Att.
Diego A

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

“Alô, em que posso vir a estar te ajudando”.

Acabei de retornar de uma reunião de conselho de classe. A instituição em questão consegue ser uma das mais objetivas quando se trata de definir os rumos que deverão ser seguidos, os alunos que deverão ser reprovados, etc. Em uma hora de reunião, foram passadas, tranquilamente, seis turmas. Exemplo de objetividade, foco e profissionalismo. No entanto, como não poderia ser diferente, meu contato com outros de minha espécie e casta profissional me fez refletir sobre algumas coisas do ambiente de trabalho, bem como da vida como um todo, e é isso que gostaria de compartilhar brevemente com vocês:

       1) Quais são os limites da educação/demagogia e da pro-atividade num ambiente capitalista e pragmático?

       2) Até que ponto vale a pena o esforço de algumas pessoas em mudarem outras, quando estas simplesmente não possuem o desejo de mudança?

No primeiro questionamento me refiro à atitude de alguns colegas de profissão quando devem opinar sobre a reprovação ou não de um aluno, ou quando são convocados a votarem sobre um ponto. Não acho censurável que muitos estejam condicionados ao “voto de cabresto”, tão pouco covarde por cederem à “tirania da maioria”, perpetrada por boa parte de meus diletos companheiros de jornada laboral. Muitos não querem problemas maiores e optam por defenderem a posição do “chefe” ou grupo dominante, mesmo que isso represente algo em que eles não acreditam. Eu entendo... Hoje é muito difícil conseguir lugares decentes para lecionar.  São poucas vagas e muita concorrência. Acabamos fazendo parte de uma minoria de profissionais mais ou menos bem remunerados e não podemos colocar isso a perder por conta de pontos de vista, muitas vezes, mutáveis. Por outro lado, o mercado de trabalho exige pessoas pro-ativas, engajadas com as instituições, trazendo contribuições e soluções devidas ao crescimento do setor.  E é aqui que entra o dilema: qual atitude ter num momento em que se deve ter pro-atividade, e ao mesmo tempo não ameaçar o seu emprego com posicionamentos diferentes da maioria? Muitos apelariam para a retórica e estratagemas, mas que no final apenas revelaria uma faceta pior ainda: a demagogia. Este é o grande problema que tantos de nós enfrentam neste final de ano escolar. Sobretudo, quando somos parte daqueles que muitas vezes, se fosse numa repartição pública, seriam considerados reacionários, radicais, arrogantes e estúpidos.
No segundo questionamento, me refiro à conduta de certos alunos em relação ao investimento que seus pais promovem. Há escolas em gyn com mensalidade próxima a 1,300 reais, para ficar só no básico. Bem, com muito menos do que isto vive a chamada classe emergente do país de Lula e Restart.
Hoje teve uma aluna que havia ficado para recuperação em oito matérias (inclusive Ed. Física). Tal aluna não possuía nenhum TDAH ou trauma diagnosticado que pudesse atenuar seu desvio cognitivo. Possuía uma renda familiar invejável e condições de estudo tranquilas. Trata-se de uma bela jovem e tão bem articulada quanto a Preta Gil ao falar de aborto. Há atitudes dela que me levam a crer que a mesma possui lepra no telencéfalo, de tão limitada que consegue ser. Ás vezes, a impressão é que ela vive um mundo à parte, colorido, distante e convidativo, onde o passaporte para esta dimensão consiste em entrar em transe sonambúlico durante as aulas.
Sempre costumo dizer aos meus alunos: “seios e herança um dia caem e não duram para sempre. No final das contas, o que sobra é a inteligência e os pais. Se você não desenvolve a inteligência e não honra os seus pais ao menos fazendo valer o que eles investem, se preparem para deixarem de ser o futuro da nação para serem mais um na estatística da mediocridade”.
Bem, alguns me acham arrogante com isso, outros entendem o recado. Mas estes últimos, nem precisavam do recado, enquanto que os primeiros ainda acreditam que podem comprar tudo a partir dos rendimentos que a “Colheita feliz” vai promover ou que sua “beleza” cunhada com photoshop e postada no tumblr vai acarretar. Vejo que não adianta; quem não quer melhorar não aceita ser ajudado. Espero que um dia, estes mesmos, possam aprender a dar valor à vida e às oportunidades que lhes foram concedidas . Desejo que isso não venha por se deparar com o resultado de um vestibular frustrado ou com a noticia de que a vaga pleiteada para assistente de telemarketing foi preenchida por alguém mais competente para dizer : “Alô, em que posso vir a estar te ajudando”.
Att.
Diego A.

Novos ares comportamentais

Nesta semana ocorreu algo que me chamou a extrema atenção. Na verdade, o fato em si é muito corriqueiro em minha profissão, no entanto, minha atitude, embora num primeiro momento “natural”, me surpreendeu positivamente. 
Estava participando de uma banca examinadora. Estavam presentes, como de praxe, três professores/pesquisadores, o aluno e alguns convidados. Pois bem, a apresentação em si foi regular. O nervosismo nessas horas, a imaturidade acadêmica e falta de condições estruturantes sempre dificultam, inclusive, nossa avaliação precisa. O tema a ser discutido era o conceito de amor na história da filosofia. O aluno em questão procurou esboçar o conceito a partir da perspectiva de vários autores, que iam desde Sócrates e Agostinho, passando por Freud e Eric Fromm. Ficou um trabalho didático, mas não original e mesmo instigador. Mas é assim mesmo, de fato, não esperava nada mais do que isso...
A questão principal veio a seguir. Um professor, no alto de sua sapiência, começa a “ponderar” sobre o trabalho, com um ar de pompa, necessidade de mostrar serviço, etc. Costumo ter uma ojeriza em relação a este tipo de comportamento, pois na maioria das vezes, não acrescenta em nada e dá a impressão que aqueles que eram para serem os intelectuais não conseguem transcender um “Felipe Neto” ou “PC Siqueira” da vida. Mas enfim, ele levou a discussão para a seguinte generalização. Segue, mais ou menos, suas palavras:
“A sociedade MODERNA está corrompida. Os valores estão invertidos e se perdeu aquela inocência e pureza das relações humanas. Hoje o amor é só sexo, e o sexo é só consumo, e consumo parece ser a vida... Em NOSSA época, nos relacionávamos melhor, estudávamos mais e RESPEITAVAMOS mais os nossos semelhantes. Estamos caminhando para um colapso social e as guerras no mundo (e agora no RJ) são uma prova de que falta o verdadeiro amor aos homens.” (Grifos meus)
Bem, achei tudo isso lindo e realmente acho que falta mais amor e respeito entre as pessoas. Mas me perguntei muitas coisas antes de interpela-lo: 1) Qual o intuito do sujeito ao dizer essas coisas?; 2) O que isso estará contribuindo academicamente com o trabalho do aluno; 3) Será que é esse perfil que o mercado educacional quer ou tolera?.
Por favor, não me entendam mal. Não acho que não devemos contribuir para formação humanas  de nossos alunos, trazendo reflexões para vários campos, muito pelo contrário. Todos que têm aulas comigo, sabem da minha preocupação com a interdisciplinaridade, o aprendizado orgânico e a reflexão...  Mas o que me instigou foram as razões que levaram aquela pessoa a ficar mais de trinta minutos discursando como se fosse um mentor espiritual, em plena apresentação de TCC.
Não vou ficar aqui tecendo considerações sobre o comportamento de outrem, aliás, nem era este o meu objetivo no começo do post. O que me chamou a atenção foi a minha reação. De inicio, tratorei os seus argumentos. Argumentei que sempre achei falacioso esse discurso de gerações melhores do que as outras. Uma geração é sempre uma ruptura, sendo que o “pior ou melhor,” pode ser somente uma questão  de ponto de vista e contexto. É claro que não aprecio a moda “emo/colorida”, não escuto “sertanejo universitário”, realmente acho que os jovens de hoje tem uma dificuldade muito grande de perceber e ler o mundo a sua volta, mas não vejo nisso um apocalipse. Dizer que o mundo de outrora era melhor é negar que o mundo se transforma e se redimensiona. Honestamente, não acredito que o mundo esteja mais violento do que antes, o que ocorre é que hoje, com o avanço da comunicação, qualquer noticia nos chega de modo quase imediato, seja ocorrendo aqui na minha varanda ou nos confins do Veiga Jardim. É óbvio que nós, do Goiás, vimos de uma tradição rural, para não dizer comunal. Grande parte de nós passou a infância comendo pamonha, escutando moda de viola e sentindo o frescor (ou nauseante) cheiro de relva e pasto. Nossas relações, obviamente, eram mais entremeadas e o espírito de fraternidade aparentemente mais evidente.  Mas não creio que as coisas tenham piorado assim. Não creio que havia educação ou polidez, e sim repressão e heteronomia. Não acho que existia uma família ideal e harmônica, daquelas de comercial de margarina ou de colônia espiritual. O que vejo, na experiência cotidiana, é que o que havia eram várias esposas que consideravam o divórcio um pecado e maridos que naturalizavam seus comportamentos promíscuos a partir do argumento da “necessidade natural de toda espécie de macho”, e filhos que temiam, mas não respeitavam verdadeiramente – o que é uma diferença enorme.  Creio que vivenciamos uma época de rupturas e redimensionamento e precisaríamos de muito tempo ainda para julgar devidamente esta geração.
Mas a discussão para por aqui, até mesmo porque não conseguiria expressar tudo o que penso em poucas linhas e nem seria honesto intelectualmente com quem me lê nesta hora. O fato, mais uma vez, diz respeito à maneira com que me comportei logo após a tratatorada... Vi que o professor procurou a todo custo fundamentar sua explicação, que foi de Nietzsche à Jesus Cristo (!), mas vi também que o que ele queria não era me refutar e sim mostrar aos demais sua erudição e “moral”. Vi que não adiantava mais eu contra argumentar, pois o que estava em questão não eram mais ideias e sim vaidades. Resolvi parar por ali mesmo... E é aqui que me vi evoluindo um pouco. Em outros tempos, daria seguimento à discussão até provar que ele estava errado, ou fazer com que ele saísse do sério com minhas ironias pérfidas. Acabaria, por fim, criando uma animosidade profissional, um desconforto por parte do resto da comissão de avaliação e um prolongamento desnecessário ao tempo de apresentação de um aluno que a esta hora tudo o que queria era estar xingando muito no twitter...
Bem, meu mérito todo foi o de não avançar numa discussão que não deveria nem ter começado. Refletindo sobre várias outras ocasiões, vi que em muitas delas o meu desejo de intervenção foi, também, por mera tentativa de promoção pessoal. Nesse sentido, não tenho direito de julgar meu colega de trabalho que, por fim, estava no seu “ganha pão” profissional e egóico. A mim, resta calar ainda mais e só contra argumentar a mim mesmo. Com certeza, o mundo teria mais a ganhar com meu silencio que redundaria no aprofundamento de minhas próprias questões.
Att.
Diego A.

PS: abaixo, um vídeo que achei belíssimo e que de alguma forma expressa o que penso sobre o assunto das “juventudes”. É só passar o mouse e clicar (ele tá com uma fonte oculta)

http://www.youtube.com/watch?v=ZidBmzFFSyk&feature=player_embedded

"Again"

Este é mais um início de blog e a pergunta que motiva o seu prelúdio é: por qual razão partir para o sétimo blog em quatro anos? Não seria mais fácil reativar outros? A resposta se entrelaça com outra questão mais profunda: por qual motivo jamais dei seguimento aos blogs anteriores? A assertiva para isso é complexa, possui relação com minha própria personalidade: criativa, mas indolente; perspicaz, mas não empreendedora. Tenho dificuldades sérias em concluir as coisas que inicio, seja trabalho, relacionamentos, projetos, músicas, artigos, blogs... Se em alguns momentos consigo angariar sucesso em algumas áreas e aparentemente as concluo é por que há outras pessoas que dependem – até financeiramente - de sua execução e término, senão... 
Pode ser que eu não dê seguimento a este blog, que assim com outros, ele não passe de três posts. Mas se assim ocorrer, não será nenhuma novidade para quem me acompanha. Se ele der continuidade, é porque consegui atingir os meus objetivos atuais – o que é muito bom! Mas quais são eles? Quais relações estes possuem com a composição de mais um blog? Bem, a(s) resposta(s) para isso ficará clara nos posts a seguir... Por hora, tudo que adianto é que tenho expectativas maiores em relação a este. Em todos os outros, buscava tratar de assuntos variados: filosofia, educação, trabalho, espiritualidade, música e artes em geral. Daí, meu tempo - sempre escasso - não encontrava brechas para, semanalmente, escrever sobre tudo o que observava. Somando isso à minha personalidade difusa e por vezes proteladora (mas paradoxalmente perfeccionista), era sempre uma complexidade iniciar qualquer escrita e terminá-la em tempo hábil e com a qualidade necessária. Neste blog, ao contrário, quero apenas expressar meu ponto de vista sobre coisas que me clamam atenção e expressão, sem a pretensão de ser didático, esclarecedor ou mesmo inovador. Servirá mais como catarse do que como promoção egóica virtual, mais como um extensor de pensamentos curtos que por ora florescem no twitter do que ser uma página para tratados filosóficos.

Bem, por hora é só. Espero que todos possam de alguma forma se identificar com minha escrita e reflexão, embora espere, também, que em muitos casos sejam apenas expectadores, rindo de meus devaneios pueris..
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Obrigado!
Diego A.