sábado, 22 de outubro de 2011

Se o amor é cego, deixe-me apenas ser míope.




“And so it's
Just like you said it would be
Life goes easy on me
Most of the time
And so it's
The shorter story
No love, no glory
No hero in her Sky”

Blowers Daugther é uma música que sempre me chamou a atenção. Uma das canções mais sofridas, emotivas e belas que já escutei. Na versão em português há uma frase que embora não contida na versão original, dá um significado ainda mais especial à música: “... É isso aí, como a gente achou que devia ser...”. Escutar essa música hoje me faz descer duas lágrimas: uma de tristeza e outra de esperança. Pode parecer contraditório como dois sentimentos se paralelizam em minha alma, mas são justamente esses que despertam quando escuto esta canção, especialmente agora que vivo este intervalo existencial, onde a vida insiste em colocar mais uma virgula ou reticências em seu texto já difuso...

Este foi um ano muito intenso em minha vida... Adquiri muitas coisas materiais que tinha vontade; encaixei-me em instituições de ensino relevantes; redescobri-me fazendo terapia... Ao mesmo tempo, abri mão de uma série de coisas: de um descanso merecido nas férias, de um doutoramento e, por fim, de um casamento. Deveria estar muito triste, afinal, os “danos” foram maiores do que as “compensações”. Mas não estou... Pelo menos não da maneira como a maioria das pessoas esperassem que eu ficasse. Isso não significa também que eu esteja em júbilos, extremamente feliz.

Não... Rupturas nunca são fáceis, mesmo quando necessárias. Sair de um relacionamento nunca é uma tarefa simples, mesmo quando se é urgente, quando não se é feliz, quando há traições, mentiras, violência, etc. No meu caso, quando os motivos foram outros, o processo ainda se torna mais complexo. Há vínculos que são construídos e que se tornam barreiras quase intransponíveis, mesmo quando o fim já se preludia e o timbre de um ciclo que se encerra corte sua alma sonora.  No meu caso específico, “precisei” sair, respirar, dar sentido à minha vida. Ao lado de minha ex-esposa não era possível. Não me entendam mal...tinha uma esposa maravilhosa, companheira dedicada, amorosa, gentil, leal. Era tudo aquilo que buscamos quando vamos chegando numa uma idade - entre a juventude e a perda da alegria que a madureza acarreta - e se quer alguém para descansar nos braços após um dia turvo de trabalho. Este alguém eu possuía. Na verdade, embora maritalmente  não estejamos mais juntos, ficou a amizade, o carinho e o respeito por uma longa historia. Isso não se perde da noite para o dia, e, muitas vezes, términos não significa que anulemos vínculos fraternos. Mas a grande questão era que não me sentia mais no casamento. Relações formais exigem muito de nós. Não era mais capaz de me entregar completamente a esta vida. Não conseguia ser, de minha parte, o esposo dedicado, o ouvido atencioso, o corpo presente que uma esposa com tamanhas qualidades exigia de mim. Precisei, enfim, tomar esta decisão. Foi doloroso (vem sendo), mas ter estado com uma pessoa como a Ana por todos esses anos me fez perceber o tesouro que carreguei comigo até o altar: na semana em que sai de casa, ela mesmo me ajudou a fazer as malas. Mesmo com lágrimas na alma, me deu um beijo e desejou-me boa sorte. Neste dia me senti triste por não amá-la como ela merecia. Por outro lado, vi que o que se constrói alicerçado na rocha da amizade, uma "viagem distante" nunca tem clima de vazio eterno. 

Não me arrependo , por hora, de ter-me separado. Da mesma forma como jamais me arrependerei de um dia ter casado, ainda mais com a Ana. Foram os melhores anos da minha vida os que passei ao lado dela, seja como amigo, namorado, noivo, esposo. Cresci muito espiritualmente, materialmente, intelectualmente ao lado dela. Mas agora chegou a hora d’eu crescer como homem/adulto, de me tornar responsável somente por mim, de crescer para outros horizontes, só que desta vez sozinho.

A estrada vem parecendo tortuosa, os caminhos desencontrados... Não tenho mais a bussola que era minha esposa, o norte que era minha casa, a seta que era o sentido da minha vida. Tenho que agora buscar estes novos sentidos, sozinho. Confesso que tenho medo. Confesso que por vezes me sinto covarde. Confesso que me entristeço muito ao relembrar que a “culpa” foi minha por não ter tido a competência afetiva para sustentar uma relação conjugal que tinha tudo para ser eterna. Por outro lado, tenho a convicção de que fiz a escolha certa. Manter a amizade com a Ana e auxiliá-la em suas primeiras dificuldades pós-separação, saber que sua mágoa por mim é inversamente proporcional ao sentimento de compaixão que ela tem me acalenta bastante. Doravante os temores que se descortinam neste novo palco da minha existência, tenho certeza que sairei vitorioso. O inimigo é velho: sou eu mesmo. As armas são novas: a honestidade com meus sentimentos. O apoio é eterno: o daqueles que verdadeiramente me amam. Enfim, mesmo triste, a esperança é minha bandeira.

“And so it's
Just like you said it would be”

Att.
Diego A.

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