http://www.youtube.com/watch?v=JgTs-T0IB1c
Comecei há algum tempo a pratica de Aizu Ryu. Explicando, trata-se de uma arte marcial samurai, descendente da família nipônica Mysawa, sob a responsabilidade de Sensei Kenjiro Mysawa. Por ser uma arte Koryu, evoca elementos da ancestralidade marcial japonesa, agregando em seu vasto currículo a prática do Kenjutsu/Iaijutsu, Aikijujutsu, Uchidori, Kempo, dentre outras modalidades, alem do estudo e vivência da cultura Budô, de modo geral.
De início foi uma escolha (projeção) muito complexa, haja visto ter vindo de uma outra arte marcial oriental e por muitos anos me identificado com esta (Gong Fu). No entanto, um duplo chamado me levou a pratica do Aizu Ryu: a necessidade de renovação existencial/marcial e o apelo espiritual de num novo caminho. Traduzindo melhor, por conta de uma série de transformações pelas quais minha vida estava passando, resolvi que o melhor seria buscar uma nova abordagem existencial, além de uma ampliação do horizonte filosófico/marcial. Para além disso a minha inserção no Aizu Ryu se deu por conta de uma necessidade espiritual há muito manifesta e que se concretizou no dia em que me deparei com uma Katana, no antigo Kwon (Dojô) que treinava. Ao desembainhar aquele artefato que fora doado ao meu antigo (mas sempre) Sifu (Sensei), senti aquilo como um chamado direto para uma realidade pretérita com urgência de manifestação presente: o caminho da espada me convocava... Seria isso mudança ou retorno? Ainda não sei precisar o significado.
Por alguns anos treinei Gong Fu “Tong long chuan”, da linhagem Brendan Lai (Lai Dai Chung). Sempre vi em meu Sifu uma pessoa extremamente séria, comprometida, ou em minha linguagem marcial presente, um verdadeiro Budoka, para não dizer, um autêntico samurai, tal nível de honra e fidelidade, além de esmero técnico. Valores morais esses que me espelho nos dias de hoje ainda para atingir e vivenciar enquanto artista marcial. O sistema que treinava sempre se mostrou a mim eficiente, para além de minhas limitações de peso, agilidade e flexibilidade. Vivenciar uma esfera de arte marcial chinesa tradicional fez muito bem ao meu espírito. A necessária seriedade e disciplina durante os treinos, o respeito à ancestralidade, a fidelidade aos ensinamentos e aos meus próprios sentimentos são valores inestimáveis angariados por mim e que tornam, penso eu, fundamentais para a vivência de qualquer sistema marcial. Enfim, trago da minha experiência marcial chinesa elementos pontuais para meu desenvolvimento marcial dentro do Aizu Ryu, se não tecnicamente, com certeza espiritualmente.
Minha experiência atual no Dojô vem se mostrando peculiar. Inicialmente houve toda uma dificuldade de adequação técnica. Na verdade, até hoje ainda encontro “perspectivas técnicas” de tal forma incrustada em minha “memória marcial” que em momentos de espontaneidade são justamente movimentos típicos do Tong Long que se manifestam, seja uma esquiva de troca de pernas, uma palma de ferro numa defesa, uma base mais arqueada ou um soco mais alongado, etc. Aos poucos vou substituindo estas “memórias”, ao mesmo tempo em que preservo ainda aquilo que considero essencial dentro de um contexto de luta. Obviamente, como obediente marcial que sou, procuro separar bem as duas esferas (perspectivas). Os ensinamentos de Sensei Kenjiro e de outros Sempais calam em mim profundamente como verdades irretorquíveis até que a exaustão da prática, refinamento e aperfeiçoamento se mostrem um dia inexequível numa situação real de combate. Contudo, ainda continuo treinando (do Gong Fu) particularmente Chi Kung, além de vez ou outra executar alguma forma a fim de manter vivos os ensinamentos ulteriores. Mantenho ainda viva a relação pessoal com meu Sifu, que me continua orientando, não tecnicamente, mas vivencialmente. Como disse anteriormente, vejo nele muita marcialidade samurai, até mais do que em muitos que se pretendam Budokas, com todo respeito aos meus colegas atuais de treino.
De minha parte, vou seguindo este novo caminho (Do), procurando “vivenciar” cada ensinamento como oportunidade única de transcendência. A permanência neste estilo obedecerá ao fluxo de minhas próprias motivações e reconfigurações existenciais. Por hora, não me vejo parando, voltando à outra arte (que de alguma forma “nunca abandonei”) ou mesmo diminuindo a carga de treinos. Aprofundar no conhecimento tanto teórico quanto técnico, desenvolver potencialidades e estreitar laços com meus novos “irmãos de caminho” se configura como minha mais recente meta vital. Que assim seja!
Att.
“Seitô” Diego A.
